domingo, 23 de junho de 2013

Domingo.

Bem vindos de volta ao Articulações!

Durante um bom tempo não passei por aqui. Há mais de dois anos sem qualquer postagem - não por falta do que dizer, pelo contrário, o cotidiano sempre nos convoca a dizer algo, a nos posicionarmos diante da realidade. Muito aconteceu neste intervalo: terminei o curso, estudei, viajei, novos amigos vieram e outros se foram... No entanto, embora com algumas mudanças, o Articulações continuará tendo, para mim, a mesma função: será um espaço onde busco ver o cotidiano com um olhar mais lento, com mais cuidado [que nem sempre nos é possível, dada a velocidade que a vida tem tomado para muitos de nós]. Resolvi retomar o blog como possibilidade de reparar mais as coisas, de detalhar, de pensar com cuidado, de sentir com ternura [sempre que ela for possível e justa]. Tais possibilidades nem sempre são possíveis em outras redes sociais, principalmente, no Facebook cuja velocidade nem sempre nos permite nos determos sobre uma postagem. Tem se tornado cada vez mais veloz a decisão por curtidas, comentários e compartilhamentos. O Articulações quer caminhar no sentido contrário (ao menos, tenta) ser um espaço para reflexão. O Articulações Reticulares ainda busca ser um lugar de diálogo.
Fiquei pensando sobre o quê escrever nesta retomada: olhei para a série de manifestações que tem tomado as ruas, pensei nas discussões que tem ocorrido ao redor de minha profissão, vi a política nacional (e seus políticos) envergonhando nossa população e para os eventos internacionais que estão acontecendo ou que, em breve, acontecerão no Brasil... Não, não vou falar sobre nada disto, visto que há muitos que falam com mais propriedade e melhor do que eu. Por hoje, é isto:

Era tanto o que gostaria de dizer:
perguntas sem cabimento,
promessas pra muito tempo,
conversas sem fim.

Era muito o que queria saber:
aquilo que sentia por dentro,
se ainda havia tempo ou  
se gostava de mim.

Era grito preso na garganta:
silêncio comprido,
medo do mal-sentido,
não seria bom continuar assim.

Era sonho na ponta do olhar:
riso frouxo, mãos trêmulas.
Resolvia, então, se atirar
em direção daquilo que esperava ser um "sim".


Até breve!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Enquanto é tempo

Há muito não falava por este meio. Há muito falava só para mim. Há muito não falava: ninguém ouvia. É inusitado porque existem aqueles que querem ouvir. É preciso continuar falando... alguém ouve.

Vamos falar mais baixo
Vamos parar para escutar
(Gilmarley song – Kid Abelha)

- Porém falar de quê? Acho tudo é tão banal.
- Não é tão banal como parece...

Era para ser sido mais uma reunião burocrática: coisas a resolver, decisões a tomar, posições a assumir, mas antes de tudo isso era uma reunião de amigos. Momento para falar do que somos, o que esperamos e tememos. Do curso, de nós, da vida. Foi conversa em torno da mesa, na cozinha: o milagre de partilhar o alimento e a palavra, aquilo que entra e aquilo que sai pela boca, de partilhar o que somos. Palavra que nutre, que fala do futuro, do passado, do hipotético, do presente. Do presente ... Veio em nós a vontade de repetir aqueles momentos. De estar sempre juntos e de ser companhia. De sermos presentes.

- Foi aquele mais um encontro?
- Sim.

Somos marcados por um Encontro. Eu queria fugir, mas o encontro está lá: bate à porta e quer entrar – é incrível como estou impregnado de um discurso que me assusta, porque não me leva a pensar, mas a experienciar.
Todavia, existem os maus encontros. Há aquilo que nos sufoca, que nos persegue. Se fosse um bom encontro prosseguiríamos, seguiríamos adiante. Se o encontro é o certo ele nos liberta, não nos prende, nos faz sentirmos mais inteiros. Faz-nos felizes e cientes das dificuldades que podemos enfrentar e com a força suficiente para superá-los.
(não esqueça: romper com as dificuldades é mais difícil que tomar consciência delas)
É preciso força e a coragem de uma companhia para nos ajudar a escolher, a acreditar, a entender que mesmo que lento o pulso ainda pulsa, titanicamente. E enquanto pulsar, tudo é possível.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Passos trocados

As férias chegam e o tempo se torna mais livre. Posso escrever. A chuva vem para lavar o ano que acaba, espero que tenhamos novamente dias de sol.

Eu tenho pressa
E tanta coisa me interessa
Mas nada tanto assim
(Nada tanto assim - Kid Abelha)


- É preciso se implicar com a vida. A nossa . Problematizar o vivido. Ocupar-se não é se implicar. O que foi construído? O que você fez? Mais uma vez te digo: viver não é cumprir agenda!

Disse, ou melhor, escreveu e cantou certa vez o poeta-diplomata Vinícius de Moraes que a vida é a arte do encontro. Até hoje, não conheço expressão melhor que possa sintetizar de modo mais adequado o que é viver. Viver é encontrar e desencontrar, portanto somos marcados por presenças...viver é reconhecer Presenças. Presença, com 'p' humildemente maiúsculo. Presente. Impacto das presenças que se chocam conosco e nos permitem perguntar quem somos, para onde vamos e para que servimos. Nossa essência, nosso destino e nossa vocação.
No entanto, me assusto com o poder de pequenos encontros que, além de nos marcarem, nos fazem refletir ou ao menos olhar a vida com olhos mais lúcidos. Pequenos momentos de epifania cotidiana. Presenças que nos mobilizam ora porque somos impactados, ora porque precisamos mudar de lugar, já que não conseguimos ver bem de onde estamos. O local de onde vemos se torna insuficiente, não é o bastante. Sinto-me incomodado também quando me pergunto em quais momentos sou presença para os outros e não encontro (ironicamente) resposta.
Para participarmos de um encontro é preciso ser. Ser presente. Sê inteiro. Vivemos e (viveremos) por muito tempo no dilema entre ser e ter, já que nem sempre é fácil existir. Estamos impregnados pela lógica do ter e do saber: sabemos ou temos algo e nos expressamos – alguns mais, outros menos - como se isto nos bastasse para viver. E quando não temos, nos ocupamos a fim de nos valorizarmos enquanto mercadorias, como diria alguém que pouco conheço. Atualmente, somos mercadorias que nos criamos e não sabemos se haverá mercado para produtos cada vez mais sofisticados. Viajados, poliglotas, polivalentes. Gastamos tempo demais nos fazendo. O sentido real se perde no dia-a-dia. Podemos ficar encalhados nas prateleiras e ninguém nos encontrar. Nem nós mesmos.
Podem dizer que o argumento é pessimista e que aponta para uma situação que, possivelmente, difícil de ser superada. Nem sempre é simples ser o que se deseja ser e colocar-se próximo... persiste o 'temor' de não ser aquilo que se espera. É preciso aprender olhar para si, sem egoísmos.
Às vezes, há vontade de largar tudo. A arte também pode nos permitir encontro conosco mesmos...nos levar a mexer em caixas do passado e nos desprender de amarras com o antigo e tentar encontrar o novo. Ainda que ele ainda não tenha rosto, gosto ou nome. É encontrado pelo cheiro, pelo faro. Pelo tato.

É presença que nos traz saudade daquilo que não fomos e daquilo que não mais poderemos ser. Cheiro de terra. Saudade do meu lugar.

A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
( Samba da Benção – Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um presente


Esse texto não é meu. É um presente de minha amiga, Maria Fernanda. Um presente em São João.
"Articular: Que pertence as articulações (Gramática). Que é de natureza do artigo. V.t. unir pelas articulações, ligar, pronunciar.
Reticular ou reticulado: Que tem forma de rede.
Portanto: Articulações Reticulares é uma prática de pessoas sãs.
Porque? Porque deve-se fazer o que se há de maneira ligada? Em forma de rede?
Porque não desunir?
Porque o ato de desorganizar, de pronunciar sem coerência, sem preocupação é típico dos loucos. Mas o que é um louco senão uma pessoa que brinca, que cria seu próprio universo, que mostra suas emoções, que expõe sentimentos, que não se deixa ser reticulado.
Como disse Rita Lee: Dizem que sou louco, por pensar assim... .A loucura é a constante busca pela paz, pela libertação. Como caracterizar um louco? Aquele que ri sem medidas, que chora sem vergonha, que fala sem censura, que sente sem razão.
Pronto. Está caracterizado um louco. Eu. Louco por querer amar demais, por sorrir demais, por chorar demais, pra falar demais. Mas é essa loucura que me faz feliz. Que me torna transparente o suficiente para que todos saibam quando algo não está legal.
LOUCA. Louca por desconstruir, por descontrair. A começar por aqui. Desconstruo o que fez o criador. Ele queria que fosse tudo organizado, articulado, psicologizado (existe essa forma ou mesmo essa palavra?).
Eu não. Que quis que tudo fosse espontâneo, desalinhado, letrado (diz-se daquele que é versado em letras, erudito, literato segundo Silveira Bueno). Para mim não. Letrado é o que estuda Letras. Doido, maluco, pirado. Aquele que busca para o resto dos dias, descobrir a essência das palavras, brincar com elas, combiná-las decifrá-las. Louco? Claro. Nem o mais sábio dos homens conquistou tal mérito, as palavras. O louco sim. O louco as cria, as articula de maneira que ele considera reticular, que ele entende como sentido. Ele exterioriza sentimentos.
Nisso, o fiz. Nada de sentido no que coloquei. Porque quis apenas exteriorizar para não enlouquecer cada vez mais e tentar articular reticularmente o que sinto. Não daria certo nem faria sentido à minha natureza."
Obrigado, Maria.


Ele vem.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Releitura

"Da janela vejo fumaça, vejo pessoas"

Antes de todo o resto, preciso dizer o quanto me surpreendi nos últimos dias com referências ao Articulações Reticulares, sobre o que é escrito aqui. Tentativas de pensar melhor. Fala de amigos antigos e novos, leitores assíduos e esporádicos, que me alegraram bastante ao saber que aquilo que escrevo pode fazer sentido para outros que não eu. Preciso, portanto, agradecer: muito obrigado por me cobrarem textos novos e atualizações frequentes; tento fazer o máximo para mantê-lo atualizado, mas a vontade é morta pelo tempo curto e por minha falta de disciplina.

Ao ouvir referências sobre o blog, resolvi me debruçar sobre tudo aquilo que escrevi. Sou dependente da letra impressa no papel. Imprimi tudo, levei para casa e li os textos escritos há mais de um ano e gostei – o suficiente – do que fiz. Textos escritos com várias possibilidades de compreensão conforme o leitor que a ele tem acesso.

Graças a um convite, compreendi que a comunicação é uma via de mão dupla e dinâmica: a mensagem – ainda que escrita ou sob qualquer forma de registro – muda de acordo com quem a lê e o momento em que é recebida. O sentido é transitório e eternamente novo. O sentido de muito o que escrevi mudou para hoje. Ao reler tudo. É muito bom ler coisas que eu mesmo escrevi com um olhar mudado. Pelo processo.

Quid animo satis?

A pergunta que me guiou nos últimos dias (e ainda vai me guiar por muito tempo) e que surgiu daquilo que tenho passado é justa para todos aqueles que querem ter clareza diante da vida: o que satisfaz a alma?

Somos marcados por uma presença. Sempre. Todavia essa presença não se faz perceber de forma óbvia: o descobrir uma presença é marcada por um encontro. Somos sucessivos encontros que nos afetam por períodos e formas diferentes, construindo nossa história pessoal. Encontros resolutivos que podem resolver muito do que vivemos. Encontros novos, construtores de novos tempos na vida de cada um.

Me surpreendi com um telefonema. Me alegrei com um convite: quem são esses com quem me encontrei ontem? Não são os mesmos com quem estudei, mas que me fazem lembrar dos adolescentes que fomos um dia.

Ter ido ontem à casa daqueles que estudaram comigo me fez lembrar momentos da minha vida e revivê-los sem nostalgia, mas com a certeza que foram vividos. O imperfeito não participa do passado. Poder tocar assuntos que outrora somente tangenciados, se expressaram de modo aberto diante de amigos.

A lembrança, a memória é um reconstruir o vivido. Redotá-lo de significado e, portanto, de sentimento. Trazer o que estava afastado no tempo e no espaço para perto de si; um lançar-se voltando naquilo que fomos.

Percebo que cresço, que avanço. Com meus diminutos passos.